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DESTAQUES
Hospitais alertam para a volta do "Golpe da Cobrança"
“Fazer propaganda com preço da consulta fere o Código de Ética Médica”
Especialista diz que casos de febre amarela não são motivo para desespero
Paciente que depende do tratamento vive luta diária
Com falta de servidores, Cais trabalham no limite
Recadastramento apura a origem de pacientes
O HOJE
Hospitais alertam para a volta do "Golpe da Cobrança"
Acompanhantes recebem ligações de supostos médicos cobrando pagamento antecipado de exames de pacientes em risco
BRUNA POLICENA
Em 2015 muitos familiares de pacientes internados na UTI receberam ligações de homens que se identificavam como médicos gerais do hospital ou até o próprio dono, pedindo que fosse feito um pagamento antecipado de um exame caro, ou alguma medicação, que por conta do preço, ainda não teria sido liberado pelo plano de saúde, mas precisava ser feito com urgência. No entanto, a frequência com que esse golpe vem sendo aplicado cresceu novamente.
Na época a Associação dos Hospitais Privados de Alta Complexidade do Estado de Goiás (Ahpaceg) pediu que o então secretário de segurança pública, José Eliton, tomasse providências e iniciasse investigações a respeito desse golpe da cobrança.
As investigações não foram concluídas até hoje, e a grande questão é que estes golpistas tem total acesso a dados pessoais do paciente, que seriam informações internas do hospital.
Assim, trabalhando com hipóteses, a assessoria da Ahpaceg direcionou que os golpistas podem estar infiltrados nos cargos dos hospitais, ou com muita sagacidade, apresentarem-se por telefone como funcionários de planos de saúde e pedem o acesso às informações do hospital. Mesmo assim, a associação juntamente com os hospitais já está alertando pacientes e familiares sobre o golpe, e panfletos estão espalhados nos quadros de aviso dos hospitais para que futuras vítimas estejam alerta.
O Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego) também repassou o alerta, e solicitou aos médicos que orientem seus pacientes quanto ao golpe, e que não efetuem nenhum pagamento ou depósito se solicitado por telefone. E caso aconteça, é preciso que o paciente entre em contato imediatamente com a direção da unidade. O presidente da Ahpaceg, Haikal Helou, acrescentou que "reivindicamos que as investigações sejam concentradas em uma delegacia".
O Hoje procurou a Secretaria de Segurança Pública, mas as ligações não foram atendidas. E até o fechamento da edição, não houve nenhuma pronunciação da polícia quanto à retomada das investigações.
Olimpio Antônio levou seu pai para a urgência do Hospital Amparo, e com o plano do Ipasgo, deu entrada para internação, já que constataram que o caso se tratava de uma pneumonia grave. Há uns seis meses o mesmo senhor, Rodolfo de Oliveira, ficou quase 40 dias internado na UTI de um hospital que logo em seguida foi acusado de participar da máfia das ambulâncias e de prolongar a estadia dos pacientes na UTI para extorquir o paciente e o plano de saúde.
Por não ter vagas na UTI do Hospital Amparo, foi transferido para o Hospital dos Rins, e lá ficou por dez dias contanto com o período de estadia no quarto. Logo que entrou na UTI, seu filho recebeu uma ligação no celular enquanto estava em horário de serviço, em que um homem, identificando-se como médico geral do hospital, afirmou que Rodolfo precisava realizar um exame muito caro com urgência, e que o por ser sábado, o plano de saúde só liberaria na segunda.
O homem ainda afirmou que com o pré-exame já feito, foi constatada uma suspeita de câncer pulmonar, e que o paciente só poderia ser tratado com o pagamento adiantado desse segundo exame, e que o plano de saúde iria ressarci-lo posteriormente.
De inicio colocou o preço de R$ 3,5 mil, e foi abaixando o preço à medida que Olimpio foi afirmando não ter o dinheiro em mãos.
No hospital, contando o caso para outro acompanhante, outro rapaz também relatou que sua irmã, de Minas Gerais, veio socorrer o pai que mora sozinho em Goiânia, e ainda na sua casa, recebeu um telefonema muito semelhante, e por conta da distancia, o desespero a fez cair no golpe e depositar um valor aproximado de R$ 5 mil, além de passar dados pessoais, que o golpista pediu.
Hospitais cobram o uso de TV e ar condicionado
Na primeira semana de janeiro, a Superintendência de Proteção dos Direitos do Consumidor (Procon) autuou nove hospitais da cidade por cobrarem de forma irregular e abusiva o uso de TV e ar condicionado, sem aviso prévio ou acordo com o paciente e acompanhante. Após denuncias de familiares que tiveram que pagar cerca de R$ 100 para usar os equipamentos, o Procon fiscalizou 22 unidades em Aparecida e na capital, e autuou as nove que tiveram a prática abusiva.
Para o usuário que já tem incluído no pacote do plano de saúde a utilização do mobiliário, está incluído o uso desses equipamentos do apartamento, sem nenhum acréscimo ou taxa extra, a não ser que o quarto não tenha, e se solicitado pelo usuário deve ser combinado de forma regular. O Procon orienta que os pacientes com plano de saúde podem escolher apartamentos com equipamentos não previstos e que é "legal e justa" a cobrança pela diferença.
Primeiramente, os pacientes e acompanhantes devem estar cientes do pacote que o plano de saúde pode cobrir e quais gastos estão incluídos.
Caso o paciente tenha direito ao apartamento, a Ahpaceg orienta os hospitais que informem ao paciente o quarto ao qual ele tem direito por contrato e pode oferecer acomodações melhores, mas tudo negociado antecipadamente, e via contrato.
A cobrança por taxas extras é abusiva quando o usuário tem o direito, e não é informado disso.
E é cobrado por uma coisa que o plano já cobre.
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JORNAL OPÇÃO
“Fazer propaganda com preço da consulta fere o Código de Ética Médica”
Por Alexandre Parrode
Presidente do Conselho Regional de Medicina comenta aumento de clínicas populares no Brasil e condena mercantilização da saúde
Presidente do Conselho Regional de Medicina de Goiás (Cremego), o ginecologista Aldair Novato recebeu o Jornal Opção na última quinta-feira (19/1) para comentar sobre o fenômeno das clínicas populares em Goiás.
Nesta semana, uma instituição ganhou as redes sociais ao anunciar atendimento médico em diversas especialidades com valores de consultas que variam de R$ 80 a R$ 100, podendo ser parcelados em até dez vezes.
Apesar de reconhecer que se trata de um “filão de mercado”, Aldair Novato rechaça o que ele chama da “comercialização da saúde” e faz questão de dizer que, segundo o próprio Código da Ética Médica, o atrativo da consulta deve ser a qualidade — e não o preço.
Na sede do Cremego, o presidente falou ainda dos desafios da educação superior no Brasil, em especial da medicina. Para ele, o exame de proficiência é uma realidade que deve, urgentemente, ser aplicada em todos os estados.
Nesta semana, uma clínica popular ganhou as redes sociais em Goiás com uma proposta ousada: consultas médicas em várias especialidades, a R$ 100 e parcelados em até dez vezes. Como o Cremego avalia?
Essa clínica em particular é dos meus sobrinhos, só que não me consultaram nada, só me convidaram para inauguração.
Já venho me manifestando sobre clínicas populares desde que elas começaram a se divulgar: o atrativo do atendimento médico deve ser a eficácia e o paciente deve procurar o médico, ou a clínica, porque o atendimento é satisfatório. Quando se precifica o serviço médico, o paciente é atraído pelo custo e isso não é bom.
Posso cobrar o que quiser, R$ 20, R$ 50, R$ 400… É uma prerrogativa do médico e ninguém tem nada a ver com isso. Agora, a partir do momento, que o profissional publiciza “consultas a R$ 50, parcelados em dez vezes”, isso fere o código de ética médica. Não pode. A Codame [Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos] já vai a essa clínica, choveu de denúncia aqui. Tem quatro dias e o Conselho já vai ter que ir lá.
Por que esse tipo de clínica tem se tornado cada vez mais comum?
Existe um filão econômico, podemos usar esse termo. O SUS está falido, a clínica privada e os planos de saúde estão caros, porque a medicina é cara. Mas tem ficado mais cara justamente pela quantidade excessiva de exames realizados em consultas. Principalmente, pela vinculação do atendimento a um determinado tipo de exame complementar realizado dentro da própria instituição. Te cito meu exemplo, na minha clínica há um aparelho de ultrassom e eu sou ultrassonografista, faço a solicitação do exame e entrego para o paciente. Ele decide onde quer fazer. Não há vinculação do meu trabalho a realização de qualquer tipo de exame ou atendimento complementar, como fisioterapeutas, nutricionistas… Não pode haver vinculação. É comum, mas é errado e o conselho penaliza. Paciente pode ter acesso à informação de que, naquele local, realizam-se exames, evidentemente, mas não pode condicionar a consulta à realização do exame.
Quando se coloca custo no atrativo da consulta médica é contra o Código de Ética. O atrativo tem que ser o atendimento, por exemplo, “você será atendido em até cinco minutos”. Mas isso é um precedente perigoso…
É possível?
Não sei. Mas é um problema, pois o cara vai chegar lá e se demorou 15 minutos ele vai ao Ministério Público, faz uma denúncia, e a clínica será responsabilizada.
O atendimento médico, às vezes, gera atrasos. Por que? Porque há casos complexos. A consulta está planejada para durar 20 minutos, aí aparece um paciente mais complicado, que necessita de um encaminhamento, é caso emergencial… Não dá para prever.
Um atendimento psiquiátrico dá para ser feito em 15 minutos?
Existe demais no serviço público a contratação de médico para ambulatórios, por exemplo, com a exigência de um número mínimo de atendimento. Alguns tentam, mas o timing do médico é o timing do médico. Ele tem que atender bem, cinco, dez ou 15, mas não pode estabelecer.
“O que encarece a medicina hoje é a quantidade de exames complementares”
Clínicas populares são uma “tendência” atual?
Existe, como disse, um filão. Pacientes particulares que não querem entrar na fila do SUS, mas que não tem condição de ter um plano de saúde. O ideal é ter um, porque, saiu da porta de onde contratou e, se for atropelado, o plano é obrigado assisti-lo em uma emergência. Não existe carência para urgência. Plano tem que cobrir tudo. Essa é a grande diferença, mas o cidadão pensa “estou aqui com uma dor e quero esclarecer”, para tanto vai a uma clínica popular.
Agora, importante ressaltar que, quando o paciente senta na frente do profissional, não pode existir carimbo de “particular”, “convênio” ou “popular”. Atendimento deve ser igual a todos, por isso que não se pode cronometrar. Alguns casos exigem uma história mais complexa, um exame mais minucioso, exatamente para quê? Quando se faz um examinação bem feita diminui-se demais a quantidade de exames necessários para o raciocínio clínico. Quando não há tempo, utilizam-se exames dispensáveis.
Um exemplo, no meu consultório, nesta semana, chegou uma moça jovem do interior, de 26 anos, relatando muita dor no abdômen e para urinar. Ela me contou que havia ido a um hospital e fez uma bateria de exames, incluindo uma ressonância magnética. O que ela tinha? Infecção urinária. Ou seja, fez um monte de exames, saiu sem diagnóstico e eu, com uma consulta, consegui tratar o problema. Não precisava de nenhum exame, nem de urina naquele momento. Peguntei a ela quanto tempo o médico do pronto-socorro levou para examiná-la? “Dois minutos. Nem conversou e já pediu uma série de exames, voltei e ele disse que eu não tinha nada”, explicou.
Quanto mais tempo o médico despende para ouvir o paciente e examiná-lo, mais eficácia terá no diagnóstico. E diminui demais a necessidade de exames complementares. O que mais pesa na medicina hoje é a quantidade de exames e condutas equivocadas.
É um problema da medicina? Ou da formação dos novos médicos?
Os dois. Das faculdades e desse novo filão de mercado, no atendimento de massa. Por isso, na maioria dessas clínicas populares, quando se coloca tempo, é fato que vai onerar demais o paciente no exame complementar. E justo eles, que deveriam se esmerar no atendimento clínico, pois esse paciente tem pouco recurso. Muitas vezes só o dinheiro da consulta e de comprar o remédio. Para ter segurança no diagnóstico, tem que ter tempo de atendimento, estar preparado. Agora, nós do Cremego estamos em cima mesmo é na fiscalização das especialidades.
Em qual sentido?
Muitas clínicas populares anunciam atendimento em psiquiatria, ortopedia, ginecologia, etc, só que não têm médicos especialistas. Para se ter título de especialista, é preciso que o médico faça uma residência, de três anos, ou, após algum tempo de estudos, tome uma prova de título e receba o certificado de aptidão para exercer aquela especialidade.
Veja só como tentam burlar: as clínicas alegam que não estão propagando que têm especialistas naquelas áreas, mas que há médicos que atendem àquelas especialidades. “Atendo dermatologia”, “atendo psiquiatria”… Mas isso não pode! Eu, como médico, posso atender qualquer caso, desde que me sinta capacitado para tal, só não posso propagar que sou especialista. Mas quando essas clínicas colocam lá que estão realizando determinados atendimentos especializados, deve haver um responsável técnico, o que não acontece. Não podem ser apenas médicos atendendo a especialidades.
“Índices de aprovação de faculdades de medicina particulares não passam de 10%”
Como o Conselho pode atuar para coibir essas práticas?
Fiscalizando, identificando os médicos que não estão devidamente registrados e convocando os especialistas responsáveis. Primeira coisa, chamamos orientação. Não penalizamos sem autuar primeiro, a não ser que seja algo absolutamente grave, porque não podemos prevaricar de nossa função. Esse é o papel da Codama [Comissão de Divulgação de Assuntos Médicos].
O aumento das clínicas populares é só o filão comercial ou está relacionado ao ensino?
Entre a faixa da população, que depende só do SUS e a que consegue pagar um plano particular, existe um grupo que aumenta cada vez mais. Então, as clínicas populares cumprem um papel. Agora, o que acontece, não digo que é em uma específica, mas muitas se aliam a laboratórios para ganhar em cima de exames, e isso é ilegal, vincular atendimento não pode de jeito nenhum. É um leque muito grande que acaba comercializando saúde.
Da última vez que vim aqui ao Cremego, o ex-presidente Erso Guimarães me disse que havia uma deliberação a ser feita sobre a prova de proficiência da medicina. Em que pé está isso?
Goiás só não tem ainda porque está proibido pela Justiça. Na verdade, nem em São Paulo tem mais porque foi suspenso por uma ação judicial movida pela Associação das Faculdades Particulares de Medicina de São Paulo. Como estavam com índices de aprovação em torno de 10% a 15%, decidiram judicializar a questão.
Com a saída do último governo, o novo Ministério da Educação fala em estabelecer uma prova do progresso e, principalmente, do egresso, fazendo avaliação no segundo, no quarto e no sexto ano. Isso é importante, mas lutamos mesmo pela do egresso, como o que acontece na OAB.
O sr. está dizendo que apenas um em cada dez médicos formados está apto a exercer a profissão?
Isso mesmo. 10% dos alunos eram aprovados no exame do Cremesp. Faculdade que recebe R$ 11 mil por mês para formação de um aluno não consegue aprovar 10%… Já as tradicionais, USP, Unicamp, 90% de aprovação.
É difícil lutar contra esse sistema?
Sim… Faltam médicos no Brasil? Talvez. Mas não acho que faltam muitos não. O que falta é políticas efetivas para interiorizar o profissional, garantir que ele consiga ficar no município sem depender do prefeito. Aliás, esse é um dos grandes problemas de hoje: o médico, como é um profissional que tem uma ascensão social muito grande, acaba se tornando uma “ameaça” aos políticos. A primeira coisa que acontece quando um prefeito vê um médico que tem grande apelo popular é parar de pagá-lo. O cara fica um mês, dois meses, três, quatro sem receber aí no quinto vai embora. Vai para os grandes centros, onde não depende de prefeito. Por isso batalhamos para criar a carreira médica do estado.
Como funcionaria?
Médico concursado, pela União, pelo estado, pela prefeitura… Que entra governador, sai governador, entra prefeito, sai prefeito, e ele não pode ser demitido. Que vai lá para o interior e pode ir progredindo, tem uma atribuição, uma obrigação, em especial com a política pública de saúde, mas que possa ter garantia de crescer. Isso vai acabar com uma prática terrível de prefeitos que é a “ambulanciaterapia”, é mais fácil comprar uma ambulância e jogar o atendimento para as cidades maiores do que ter um médico lá trabalhando.
“Goiás forma, hoje, 300 médicos por ano. Em 2020, serão mais de 1,2 mil”
O sr. acredita que haverá avanços neste novo governo?
Precisamos. De muitos, inclusive. As entidades, o Conselho Federal, têm trabalhado para fiscalizar as escolas que se dispõem a serem avaliadas pelo Saeme [Sistema de Acreditação dos Cursos de Medicina no Brasil], mas, mesmo assim, as que têm problemas não se habilitam, por isso precisamos de um sistema que avalie os alunos. Agora, não dá para penalizar apenas eles, temos que fechar faculdades. Escolas ruins têm que ser fechadas… Os Estados Unidos já enfrentaram essa situação. Na década de 1960, um médico chamado [Abraham] Flexner fez um relatório sobre a formação médica norte-americana. A partir dele, fechou-se metade das faculdades de medicina.
O Brasil tem o mesmo número de escolas médicas que a Índia. Só que lá são 2 bilhões de habitantes.
A defesa do governo é que há a democratização da educação.
Mas a qualidade é muito ruim. Não podemos deixar, tem que fechar.
Em Goiás haveria esse alto índice de reprovação?
Não sei… Temos as tradicionais, UFG, PUC Goiás e Unievangélica, mas foram abertas outras. Fato é que nós formamos, hoje, 300 médicos por ano. A partir de 2020, serão 1,2 mil. Quadruplicaremos o número. Então, não posso te responder agora, saberemos disso daqui a quatro anos, quando começarem a trabalhar. Fora os médicos que estão se formando nos países vizinhos, pagando R$ 200, R$ 300, por mês.
Como assim?
Isso mesmo, Paraguai, Bolívia. Lá, inclusive, é possível comprar o diploma por 8 mil dólares. E não é falsificado não, é original, que o cara paga e consegue diploma de medicina.
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Especialista diz que casos de febre amarela não são motivo para desespero
Por Bruna Aidar
Boaventura Braz destaca que duas vacinas bastam para imunizar contra a doença e que Goiás tem boa imunização da população
O ano de 2017 começou marcado pela febre amarela, que já vitimou pelo menos 24 pessoas nos primeiros dias de janeiro. 23 das vítimas confirmadas moravam no leste de Minas Gerais e, na quinta-feira (19/1), uma outra pessoa também morreu em Brasília (DF). O número de casos notificados em Minas, no entanto, chega a 206.
Segundo o médico infectologista Boaventura Braz, no entanto, não há motivo para pânico. Ele lembra que a proteção da vacina dura mais de dez anos e que duas doses bastam para a vida inteira. A vacina contra a doença está disponível da rede pública de saúde gratuitamente, e também é possível encontra-la na rede privada.
Boaventura acrescenta ainda que a região do Centro-Oeste é considerada endêmica, e por isso, a vacina é incluída no calendário de vacinação da população em geral, desde a infância. “A Região Nordeste, por outro lado, não é considerada endêmica. A pessoa que migra para cá vindo de lá, então, deve tomar cuidado”, acrescentou ele.
Normalmente, as crianças tomam a primeira dose logo após completar um ano e a segunda dose entre os quatro e seis anos. Caso o adulto cheque seu cartão de vacinação e perceba que ainda não se preveniu, deve tomar duas doses em um intervalo de no máximo 30 dias. Se ele já tiver sido vacinado duas vezes, não precisa mais receber a dose. A partir de 60 anos, entretanto, a imunização não é indicada.
Febre amarela
O médico explica que a febre amarela é uma doença que se manifesta inicialmente com um quadro de doença viral comum, com sintomas de febre, mal-estar e dor no corpo. Normalmente, estes sinais desaparecem em cerca de três, quatro dias. No entanto, se o quadro se complica, eles voltam subitamente.
É nesta segunda onda que costumam se manifestar os sintomas mais característicos, como olhos amarelos, mal-estar, com náuseas, vômitos e indisposição. “Se o paciente não procurou um médico na primeira onda, vale procurar um profissional de saúde caso os sintomas retornem”, indicou ele.
Ele acrescenta ainda que epidemias de febre amarela em macacos são recorrentes de oito a dez anos, como está ocorrendo atualmente. “Quando o vírus circula no meio silvestre, ele extermina todos os macacos que não são resistentes e, neste ciclo, demora em média oito anos para criar uma população de macacos suscetíveis novamente”, esclarece.
Por essa grande capacidade de dispersão no meio silvestre, as populações mais suscetíveis são as que moram ou trabalham no campo e ainda não foram vacinadas. O vetor da região silvestre é o mosquito Haemagogus. O Aedes aegypti pode ser um vetor em áreas urbanas, mas não é tão “eficiente” quanto o primeiro.
No Estado de Goiás, não há surtos desde 2008. Novos casos foram registrados em 2015 e 2016, após seis anos sem notificações. Foram seis casos em 2015, com quatro mortes, e em 2016, foram três óbitos. Até agora, em 2017, não há registro de suspeita da doença.
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O POPULAR
Paciente que depende do tratamento vive luta diária
A falta de quimioterapia é mais um obstáculo no tratamento de saúde de Fábio Gomes Costa, de 28 anos. Ele foi diagnosticado com um linfoma de Hodgkin, tipo de câncer linfáti-co, no início do mês e é um dos pacientes da Santa Casa de Misericórdia de Goiânia prejudicado com a falta de medicamentos para realizar quimioterapia.
Em abril do ano passado, Fábio foi a um posto de saúde em Trindade, onde mora, por conta de um caroço que percebeu no pescoço. Desde então, ele está vivendo entre hospitais, clínicas e a Secretaria de Saúde da cidade para conseguir realizar exames e consultas.
A demora para conseguir fazer exames pelo SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE o obrigou a pagar por médicos particulares. Mesmo com dificuldade financeira, já que está desempregado, familiares e amigos o ajudam nas despesas. Organizados por amigos, uma galinhada e um torneio de sinuca marcado para o próximo mês ajudam a arrecadar dinheiro para o tratamento.
Além da demora, falta de informação e erros administrativos acabam aumentando a angústia do paciente.
"Eu não vou ficar abatido porque não está tendo remédio. Vou para cima, vou procurar meus direitos e vou ser curado", afirma Fábio, que teve que fazer parte da sua primeira sessão de quimioterapia em uma clínica particular pelo custo de cerca de 900 reais.
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Com falta de servidores, Cais trabalham no limite
Problema se arrasta e serviços chegam a ser paralisados. Secretária Fátima Mrue solicitou levantamento de funcionários e carga horária. Também planeja remanejamentos
O serviço de saúde em Goiânia sofre com a falta de funcionários nos Centros de Atendimento Integrado à Saúde (Cais). Cinco unidades, de 11 existentes na capital, que foram consultadas pela reportagem trabalham no limite e às vezes são obrigadas a paralisar serviços por falta de servidores.
Problema que se arrasta deverá ser enfrentado pela nova gestão municipal. O último concurso para técnicos de enfermagem e enfermeiros em Goiânia foi feito em 2012. A nova secretária de Saúde, Fátima Mrue, pediu às unidades de saúde um levantamento sobre a quantidade de funcionários e carga horária de cada um. A intenção é fazer, conforme a necessidade, um remanejamento de servidores (confira entrevista).
O Cais Jardim Novo Mundo fechou as portas à noite nos últimos dias 14 e 16 por falta de enfermeiro, já que uma unidade de saúde não pode funcionar sem a supervisão de um servidor da área. Os plantões têm funcionado com apenas um enfermeiro, e o funcionário do plantão noturno está de férias. Como a unidade já trabalha com o mínimo, nem sempre consegue fazer remanejamentos.
Na unidade, há falta também de técnicos de enfermagem e funcionários administrativos, depois que três saíram com o fim do contrato, no ano passado. A sala de vacina tem funcionado com um técnico. Se o servidor faltar, o serviço fica completamente comprometido.
No Cais Amendoeiras, o mais próximo do Novo Mundo, há déficit de técnicos e enfermeiros. Com apenas um enfermeiro no plantão noturno, se o servidor faltar, é preciso tentar remanejar servidores e evitar que unidade fique fechada.
As férias e licenças acabam se tornando grandes problemas nos Cais, que trabalham no limite, sem a reserva técnica de 15%, conforme recomendação nacional. De acordo com Fátima, a intenção é chegar a essa reserva. "Hoje Goiânia tem, mas não sabemos onde está", explicou.
O Cais de Campinas colocou um aviso de que não emitiria os vale exames, desde o dia 5. O quadro com a relação de funcionários mostra o motivo: o único servidor que retira os chamados "chequinhos" está de licença-prêmio do dia 2 a 1º de abril. No Cais Finsocial, o mesmo problema de déficit. A sala de vacina limita a quantidade de atendimentos por períodos, já que há somente um técnico no serviço.
No Cais Vila Nova, começou a faltar insumos básicos, dizem funcionários, como esparadrapo, e MEDICAMENTOS, como adenosina, utilizado para taquicardia. Fátima disse que não houve paralisação de serviços e que licitações em andamento ou autorizadas seguem prazo normal. "Algo pontual pode ocorrer, mas não parou o serviço." Sem Cais No Jardim Curitiba, moradores não têm Cais há pelo menos seis meses. Depois da construção da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Noroeste, no Jardim Curitiba I, o Centro de Saúde da Família (CSF) passou a utilizar o prédio do antigo Cais, que deixou de existir. Avisos na unidade mostram que 25 quadras do bairro estão descobertas por falta de médicos ou técnicos de enfermagem. A UPA não atendeu às segundas-feiras por cerca de oito meses, mas o serviço foi normalizado.
Fátima afirmou que é feito estudo de população para ver a necessidade de cada região.
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Recadastramento apura a origem de pacientes
A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) de Goiânia pretende fazer um recadastramento de usuários do Sistema Único de Saúde do município. A intenção foi comunicada na última sexta-feira pelo prefeito Iris Rezende (PMDB) e reafirmada pela secretária Fátima Mrue em entrevista.
De acordo com ela, a intenção é cobrar dos outros municípios o atendimento de cidadãos não residentes em Goiânia. "Isso já é uma norma nacional, não é nada novo", explicou Fátima.
O recadastramento é para saber quem de fato mora em Goiânia. O atendimento de pessoas que não moram na capital continuará normalmente. A diferença é que esse serviço será cobrado das outras cidades, que devem arcar com os gastos em saúde dos seus habitantes.
Conforme a secretária, existem mais de 4 milhões de pessoas cadastradas no SUS em Goiânia, enquanto a cidade possui 1,4 milhão de habitantes. "A assistência do SUS é para todos. Os pacientes que moram em outras cidades vão ser atendidos da mesma forma, mas devem ser custeados pelas respectivas secretarias" disse Fátima.
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Rosane Rodrigues da Cunha
Assessoria de Comunicação