Sindicato dos Hospitais e Estabelecimentos de Serviços de Saúde no Estado de Goiás

CLIPPING SINDHOESG 21 A 23/07/18

ATENÇÃO: Todas as notícias inseridas nesse clipping reproduzem na íntegra, sem qualquer alteração, correção ou comentário, os textos publicados nos jornais, rádios, TVs e sites citados antes da sequência das matérias neles veiculadas. O objetivo da reprodução é deixar o leitor ciente das reportagens e notas publicadas no dia.

DESTAQUES

Sarampo – Diagnóstico é preocupação
Artigo – Medicina segura
Marun propõe anistia de caixa 2 e cobrança no SUS
Currículo do Dr. Bumbum cita curso não concluído e pós-graduações não reconhecidas
Por cirurgias plásticas mais baratas, brasileiros organizam no WhatsApp viagens até Bolívia e Venezuela
Mercado virtual da beleza tem sorteio, mutirão de implantes e briga por cliente
Artigo – Quando um médico deve consultar seu advogado
Especialista alerta para cuidados com médicos que usam redes sociais para expor resultados
Taxa de mortalidade infantil cresce no Brasil e acende alerta. Veja números de Goiás

O POPULAR

Sarampo – Diagnóstico é preocupação

Falta de familiaridade de profissionais com a doença e ponto de atenção para gestores da saúde. Como casos estavam erradicados, médicos não conhecem a infecção, sobretudo os mais jovens
De volta ao Brasil em decorrência da crise migratória venezuelana, o sarampo tem preocupado autoridades sanitárias em todo o País por se tratar de uma doença grave e altamente contagiosa. Mais de 500 casos foram notificados na região Norte, mas há registros da doença que estava extinta do País também nas regiões Sul e Sudeste. Por causa do risco de disseminação, instituições públicas e privadas estão mobilizadas no sentido de orientar novos profissionais de saúde que não conviveram com casos práticos de sarampo a ter precisão no diagnóstico.
O Brasil foi considerado livre da doença em 2016 pelo Comitê Internacional de Especialistas de Avaliação e Documentação da Sustentabilidade do Sarampo nas Américas (CIE), mesmo ano em que o continente americano recebeu o certificado da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) de que estava livre do sarampo. Em Goiás, o último caso foi notificado em 1999. Em fevereiro, um bebê venezuelano que não tinha sido vacinado em seu país, foi diagnosticado com a doença em Pacaraima, Roraima, por onde tem entrado levas de imigrantes. O fato alertou as autoridades brasileiras que têm constatado uma queda de vacinação nos últimos anos, deixando a população vulnerável.
O caso recente de uma acadêmica de Direito de 21 anos no Rio de Janeiro chamou a atenção. No dia 13 de junho, sentindo dores e febre, ela procurou um conhecido hospital da capital. Medicada com um antitérmico, voltou para casa e continuou frequentando a faculdade. Já com manchas no corpo, conjuntivite, tosse e febre alta, ela voltou ao hospital outras vezes e foi diagnosticada com zika. Sem nenhuma melhora, no dia 17 decidiu pegar um voo para São Paulo onde vive sua família. Ao desembarcar, a mãe a levou direto ao Hospital São Luiz onde os médicos perceberam a gravidade do caso e a internaram num leito de isolamento. A jovem estava com sarampo.
"Sarampo é uma doença infecciosa viral de alta transmissibilidade. O fato de ter pessoas circulando com o vírus pode desencadear vários surtos. Nós estamos muito preocupados porque trata-se de uma doença grave, que pode levar o paciente ao óbito", afirma a presidente da Sociedade Goiana de Infectologia, Christiane Reis Kobal, também consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Ela lembra que o período de férias eleva ainda mais o alerta e não apenas pela movimentação interna, mas também porque muitos brasileiros vão saem do País. "Há surtos de sarampo na Europa, em diversos países. Quem veio da Copa do Mundo não está tranquilo".
A SBI tem realizado desde o início do ano fóruns para treinar jovens médicos que nunca viram um caso de sarampo. "É uma doença nova para eles. Vários casos serão notificados como sarampo e na verdade não serão. Na Europa, por não ser uma região tropical, não tem dengue, zika ou chikungunya. Se o paciente aparece com manchas vermelhas, a primeira coisa que o médico pensa é em sarampo. Aqui não, temos de pensar em tudo", ressalta Christiane Kobal.
Há uma combinação de fatores que contribui para o surgimento de dúvidas no momento do diagnóstico. "Como a doença estava extinta, muitos novos médicos nunca viram um exemplo prático; a população não está totalmente protegida; e há outras doenças com sintomas semelhantes que podem dar manchas vermelhas no corpo", diz a infectologista. As exantemas – erupções cutâneas avermelhadas – são observadas também em pacientes com outras doenças.

Secretaria orienta médicos
Magna Carvalho, gerente de Vigilância Epidemiológica da Secretaria Estadual de Saúde (SES) concorda que os novos médicos não conhecem sarampo, mas lembra que há um esforço conjunto para preencher essa lacuna. "A primeira coisa que eles têm a fazer é ver a sua própria situação vacinal porque são agentes disseminadores, além, claro de seguir todas as recomendações de protocolo". No final do ano passado, num hospital da cidade sueca de Gotemburgo, quase 70 recém-nascidos receberam profilaxia pós-exposição por terem tido contato com um profissional de saúde diagnosticado com sarampo que trabalhava na área de saúde materna.
"Não é fácil. Às vezes o quadro é muito semelhante à dengue. São várias doenças que se parecem", afirma Magna de Carvalho. A SES tem orientado os profissionais que atuam em suas unidades para que façam perguntas definidoras, a exemplo do estado vacinal e de viagens recentes e, em caso de suspeita efetuar a notificação imediata – que é compulsória -, além de isolar o paciente. "Há uma série de ações que precisa ser feita para evitar a transmissão, como vacinação de bloqueio e vigilância dos contatos".
A presença do vírus de sarampo no Brasil e a baixa cobertura vacinal contra a doença, poliomielite, cachumba e rubéola, levaram o Ministério da Saúde a anunciar para agosto uma campanha nacional de vacinação voltada para crianças de 0 a 5 anos. O dia D da campanha será no dia 14.

Conselho também vê problema
Presidente do Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (Cremego), Leonardo Reis não esconde a preocupação com a possibilidade de retorno de doenças como sarampo e a poliomielite. "Os novos médicos não têm condições de diagnosticar nem doenças simples, quanto mais patologias mais complexas como sarampo. A chance de passar desapercebido é grande, tanto pela formação dele quanto pela estrutura que ele vai encontrar". A observação guarda um sistemático questionamento do Cremego sobre a qualidade das faculdades de medicina que disseminaram pelo País. "O melhor que a população tem a fazer é se vacinar e não depender do profissional que vai encontrar nos postos de saúde".
O tema é recorrente no Cremego, cuja diretoria tem se reunido com o Conselho Estadual de Educação (CEE) para tratar da abertura de novas faculdades de medicina. No final do ano passado a instituição realizou o primeiro Exame de Egressos para avaliar a formação dos profissionais recém-graduados. Por não ser obrigatório, apenas 50 formandos e recém-formados se inscreveram e o resultado foi sigiloso, sendo repassado somente aos participantes. As escolas de onde saíram receberam um relatório de desempenho por área de conhecimento, sem identificação pessoal dos alunos.

Opcional
O registro de novos médicos no Cremego independe da participação deles no exame. Mesmo assim, o certame será realizado anualmente. "Ele não é obrigatório porque depende de legislação, da burocracia federal, mas nossa expectativa é de que isso venha a ocorrer", diz Leonardo Reis. Para o Cremego, o adequado exercício da medicina passa fundamentalmente pela boa formação no curso de graduação e uma avaliação externa independente.
"As nossas escolas estão muito ruins, até mesmo as federais não têm a mesma performance. São muitos alunos e poucas vagas para residência. A realidade dos alunos de hoje é virtual ou eles estudam com bonecos e nos livros. É preciso equipes treinadas para ser intensificado o diagnóstico correto do sarampo", concorda Quimarques Cassemiro Barros Santos, há 39 anos na lida médica e fundador da Sociedade Goiana de Infectologia. Para o infectologista, a medicina se aprende em livros, mas também com o paciente, na experiência de examinar. "O ressurgimento do sarampo é uma situação que tende a ser difícil para os novos profissionais".
Apesar desse cenário de dúvidas, Quimarques Cassemiro não atribui a culpa apenas aos recém-formados. "Não é culpa somente deles. O perfil das doenças muda e há uma deficiência muito grande no ensino de medicina, sem contar que a população também tem de fazer a sua parte se vacinando. "É preciso ter responsabilidade. É o mesmo caso da dengue, uma doença que não é só problema do governo. Se a população não fizer a sua parte, não tem como controlar".
………………..

Artigo – Medicina segura

A morte da bancária Lilian Calixto, submetida a um procedimento estético nos glúteos, levanta uma questão: é possível alcançar a satisfação com a aparência de forma segura? A fatalidade integra outros tantos casos de complicações ocasionadas pelo uso de preenchedores. Um exemplo que também ganhou destaque nacional foi o da ex-modelo Andressa Urach, que contraiu uma grave infecção após aplicar hidrogel e PMMA (polimetilmetacrilato) para aumentar o volume das coxas.
Ambas as situações ocorreram em um contexto em que mais da metade das brasileiras (54%) não estão satisfeitas com o próprio corpo. A informação, divulgada pela Sophia Mind, empresa que mapeia o mundo da beleza, ainda acrescenta que quase todas desejam mudar algo no corpo. Lideram o ranking a barriga, os seios e os glúteos. Antes disso, no entanto, alguns fatores devem ser cuidadosamente analisados.
O critério de escolha de um profissional para a realização de procedimentos estéticos não pode ser, por exemplo, o número de seguidores, curtidas, popularidade e fotos de antes e depois expostas nas redes sociais – prática expressamente proibida pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Certificar-se sobre a especialização do profissional é um dos fatores determinantes para o sucesso do tratamento. No caso dos médicos, o portal do CFM oferece essa checagem gratuitamente. Uma ferramenta simples, mas que presta um grande serviço à população.
Vale destacar também que o local onde o procedimento será realizado deve ser decidido com cautela. Estabelecimentos de saúde, como consultórios médicos, clínicas e hospitais com suporte para intercorrências são os mais indicados. Casas e imóveis particulares em hipótese alguma devem ser considerados para a prática de procedimentos invasivos.
Ter uma boa autoestima é um privilégio que a medicina séria e responsável pode ajudar a alcançar. Mesmo assim, ter cautela, pesquisar muito e não acreditar em tudo que é oferecido na internet são os princípios básicos para não confiar a vida em mãos erradas.
"Ter uma boa autoestima é um privilégio que a medicina séria e responsável pode ajudar a alcançar"
Breno Modesto é dermatologista -membro da Sociedade Brasileira de Dermatologia -Regional Goiás
……………….

Marun propõe anistia de caixa 2 e cobrança no SUS

O ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, propôs ontem, em mensagem a um grupo de parlamentares, que o MDB e o pré-candidato do partido à Presidência, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles, defendam uma forma de "leniência" ao caixa 2 praticado em eleições passadas e a fixação de mandato para ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Marun sugeriu a criação de uma corte constitucional para "dirimir conflitos" entre o STF e a Constituição, um conselho superior para controle externo das polícias e avançou sobre a área social, ao recomendar o fim da gratuidade total aos pacientes no Sistema Único de Saúde (SUS).
"Vamos desburocratizar as eleições, mas punir realmente o uso de dinheiro ilegal nos pleitos. Podemos propor uma forma de leniência para o caixa dois já praticado e o criminalizarmos para o futuro", escreveu o ministro, que é citado na Operação Registro Espúrio, suspeito de interferir em registro de sindicatos no Ministério do Trabalho.
"Vamos propor mandatos para o STF, revogar a Lei da Bengala, votar a Lei do Abuso de Autoridade, e criar uma Corte Constitucional que possa dirimir conflitos entre as decisões do STF e a Constituição Federal."
A anistia ao caixa 2 e o limite ao mandato de ministros do Supremo foram discutidas na reforma política, que tramitou no Congresso Nacional, no ano passado, mas repercutiram mal e não avançaram.
As ideias de Marun foram publicadas num grupo de WhatsApp de parlamentares do MDB e de Meirelles. O ministro confirmou a autoria da mensagem, mas não detalhou as propostas. "Opinião pessoal para discussão enviada ao grupo de deputados do MDB e ao candidato."
…………………………..

GAZETA DO ESTADO
Currículo do Dr. Bumbum cita curso não concluído e pós-graduações não reconhecidas

O site oficial do médico Denis Furtado, conhecido como Dr. Bumbum, é repleto de fotos de "antes e depois" de glúteos de pacientes e postagens que explicam as "técnicas de bioplastia trazidas de Hollywood". Mas o trecho que fala do currículo é curto e sucinto – um parágrafo resume os três cursos de pós-graduação que atestariam a qualificação de Furtado para atuar com "medicina estética"
"Médico, pós-graduado em dermatologia pela ISBRAE, modulação hormonal pela BARM, medicina estética pela ASIME, nutrologia e ortomolecular, estágio em medicina e fisiologia do esporte", diz o site do "Dr. Bumbum".
A BBC News Brasil checou se Furtado realmente fez esses cursos de pós-graduação e se as instituições mencionadas têm licença para atuar. O resultado: uma das instituições citadas afirma que Dr. Bumbum não concluiu o curso, e as outras duas não possuem credenciamento junto ao Ministério da Educação (MEC) para oferecer pós-graduação.
Denis Furtado foi preso na quinta-feira junto com a mãe, Maria de Fátima Barros. Os dois estavam foragidos desde o início da semana e eram procurados pela polícia. Furtado é investigado pela morte de uma de suas pacientes, a bancária Lilian Calixto, de 46 anos, após um procedimento estético de preenchimento dos glúteos.
A suspeita é de que ela tenha sofrido uma embolia pulmonar por conta do uso excessivo de PMMA (polimetilmetacrilato). A substância, composta por microesferas de um material parecido com plástico, é aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mas é indicada somente para uso em pequenas quantidades.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, o PMMA não deve ser usado para preenchimento de glúteo.
"Era uma substância pensada para usar em pequenas quantidades, normalmente na face. Mas começaram a aplicar no bumbum. Para ter efeito, injetam no músculo, e o músculo tem vasos sanguíneos. Se injetar dentro do vaso, a substância pode ir para a corrente sanguínea e você pode ter AVC ou embolia pulmonar", explicou à BBC News Brasil o médico Sergio Bocardo, membro da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica e chefe de cirurgia plástica do Hospital Ipanema, no Rio de Janeiro.
A BBC News Brasil tentou contato com a advogada de Denis Furtado, mas não obteve resposta até a publicação da reportagem.
Em vídeo postado no seu perfil de Instagram, que tem mais de 650 mil seguidores, Furtado diz ter feito mais de 9 mil bio-plastias – intervenções à base de injeções para remodelar o corpo.
Mas as evidências mostram que toda essa experiência prática não veio acompanhada de cursos de especialização reconhecidos pelo Mec ou pelas sociedades de cirugia plástica ou dermatologia, por mais que ele se apresente no site pessoal como tendo cursado três pós-graduações.
O Ministério da Educação diz que apenas instituições de ensino superior credenciadas podem oferecer cursos de pós-graduação. Mesmo assim, esses cursos em si não servem como atestado de especialização em áreas da medicina.
Para se dizer especialista em cirurgia plástica, por exemplo, é preciso fazer três anos de residência em cirurgia geral e outros dois em cirurgia plástica. Depois, o médico passa por uma prova oral e escrita, para então receber o título de cirurgião plástico, segundo informações da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica.
Para ser dermatologista, também é preciso fazer residência ou especialização nessa área e passar por uma prova da Sociedade Brasileira de Dermatologia.
Das três instituições citadas por Furtado no currículo, apenas a ISBRAE (Instituição Brasileira de Ensino) pode oferecer curso de pós-graduação por ter parceria com uma faculdade, a INCISA.
Mas o ISBRAE informou à BBC News Brasil que Furtado começou a pós-graduação em dermatologia e não terminou.
O MEC informou que as outras duas instituições mencionadas – BARM e ASIME – não são reconhecidas como instituições de ensino superior.
A ASIME não tem site. Ao procurar os contatos, a BBC News Brasil descobriu que essa associação foi fundada pelo mesmo sócio de uma outra, a ABME (Associação Brasileira de Medicina Estética). Ao ligar para essa instituição e perguntar sobre a ASIME, recebeu a seguinte resposta: "A ASIME não existe há muitos anos".
Na sua página na internet, a BARM se apresenta como "uma academia internacional de colaboração científica entre Brasil e EUA, com o objetivo de contribuir e se de dedicar ao avanço da tecnologia na prevenção e tratamento de doenças relacionadas com o envelhecimento celular".
O único curso oferecido no site é um módulo online, mas não há detalhes sobre preços e datas. A BBC News Brasil tentou ligar no telefone disponibilizado na internet, mas o número não funciona.
A reportagem também enviou e-mail e deixou mensagem no site, perguntando se Furtado fez algum curso pela BARM e se a instituição tem alguma parceria com universidades para poder oferecer cursos de pós-graduação, mas não recebeu resposta.
Segundo o Conselho Federal de Medicina, um médico pode fazer qualquer procedimento mesmo que não tenha especialização. Mas não pode se anunciar como especialista nem mentir aos pacientes sobre a formação acadêmica. Além disso, não pode dar garantias de resultados.
A pena para quem infringe as chamadas "regras de publicidade médica" vão de advertência até cassação do registro profissional, que significa o fim da carreira, já que o profissional fica para sempre impedido de exercer a medicina.
O Conselho Federal de Medicina também informou que médicos podem exercer a profissão nas cidades onde possuem CRM ativo (licença para atuar). Furtado tinha registro para atuar como médico em Brasília e Goiás, mas não no Rio de Janeiro, onde o procedimento de Lilian Calixto foi feito.
A bioplastia foi realizada no apartamento dele, na Barra da Tijuca. Calixto teria passado mal algumas horas depois e foi levada ao hospital Barra D'Or pelo próprio Furtado, no sábado à noite. No domingo, ela morreu.
Num vídeo postado nas redes sociais antes de ser preso, Furtado se diz alvo de "injustiça". "É um mistério a causa da morte, mas é uma injustiça o que estão falando de mim. É uma injustiça falarem que eu não sou médico, eu tenho CRM ativo. É uma injustiça dizerem que é um procedimento que não é habilitado", afirmou.
Furtado afirmou também que Lilian Calixto estava "muito bem" depois da bioplastia.
"Aconteceu uma fatalidade, mas uma fatalidade que acontece com qualquer médico. Uma paciente após procedimento de glúteo, que eu já realizei 9 mil, ela saiu do consultório muito bem. Umas seis horas após eu a levei para o hospital e ela chegou ao óbito."
Segundo o médico, a paciente estava lúcida ao chegar ao Hospital Barra D'Or. "Ela terminou o procedimento por volta de 19h20. Ela desceu escada, conversou, riu, conversou com todo mundo e se sentindo muito bem. Passou oito, nove horas, dez horas, onze horas. Às 23h30 ela sentiu-se mal, sentiu uma queda de pressão", detalhou.
"Eu falei 'vamos ao hospital'. Chegando lá, ela estava andando e lúcida. E depois ela veio a falecer horas após, dentro do hospital. eu quero saber o que é isso."
O médico ainda afirma que fugiu da polícia porque se assustou ao ser abordado por "homens armados". "A minha demora nesse pronunciamento, quatro dias depois, é porque sofri um atentado com perseguição de carros, fuzil e tiros. Não sabia se era bandido ou represália da família da vítima. Mas estou sendo culpado de um crime que eu não cometi."
………………..

PORTAL TERRA

Por cirurgias plásticas mais baratas, brasileiros organizam no WhatsApp viagens até Bolívia e Venezuela

Mulheres e homens em busca de lipoaspiração, rinoplastia ou implante de silicone relatam ter economizado milhares de reais; muitos se dizem satisfeitos com empreitada, mas especialistas alertam para perigos.
A microempresária Silvana Siqueira, de 39 anos, se juntou a outras quatro mulheres e, em um carro, atravessou a fronteira entre o Brasil e a Venezuela no início deste ano. O objetivo: se submeter a cirurgias plásticas.
Como Dr. Bumbum conseguia atuar com mentiras no currículo e sem especialização
E elas não são as únicas. Segundo médicos e outras pessoas desse ramo ouvidas pela BBC News Brasil, cresceu nos últimos anos a busca, por brasileiros, desses procedimentos em países como a Bolívia e a Venezuela. A ponto de todo um mercado ter se organizado em torno desse filão.
Há inúmeras páginas e grupos no Facebook dedicadas ao assunto. Os interessados criam grupos no WhatsApp, em sua maioria compostos por mulheres, nos quais trocam experiências e organizam as viagens, atraídos principalmente pela oferta de menor preço. Além disso, brasileiros têm atuado como intermediadores entre pacientes, médicos e cuidadores , pessoas que recebem para ajudar no pós-operatório.
Não há uma estatística sobre essa procura, mas a Sociedade Boliviana de Cirurgia Plástica cita o câmbio, favorável a quem vive no Brasil, como um dos principais atrativos. Na Venezuela, um só médico diz operar até 12 brasileiros por mês. Lá, a crise econômica tem feito os profissionais atuarem cada vez mais para atrair clientes do exterior, de acordo com os relatos.
Siqueira conta que decidiu fazer as plásticas no país vizinho após ouvir relatos bem-sucedidos de amigas. Ela pagou R$ 13,5 mil pelos procedimentos. A qualidade do serviço deles é excelente. Eu consegui o resultado que almejava , conta. A viagem de carro fazia parte de um pacote no valor de R$ 2 mil pago a uma brasileira para receber os cuidados após a cirurgia.
Alguns procedimentos chegam a custar menos da metade do valor cobrado no Brasil – os mais procurados são lipoaspiração, lipoescultura, rinoplastia, abdominoplastia e implante de silicone nos seios.
Mas existem riscos. Além da possibilidade de ser operado por um profissional que não é cirurgião plástico, há também o perigo de o procedimento ser feito em uma clínica clandestina ou não haver cuidados adequados no pós-operatório, problemas também registrados no Brasil.
No ano passado, ao menos duas brasileiras morreram nos países vizinhos por causa de complicações. O mesmo ocorreu no caso da bancária Lilian Calixto, de 46 anos, que morreu no Rio após uma intervenção nos glúteos realizada por Denis Furtado, médico conhecido como Doutor Bumbum , que, segundo o Conselho Regional de Medicina do Rio de Janeiro (Cremerj), não tinha autorização para exercer medicina no Estado.
Médicos na Bolívia e na Venezuela mantêm uma equipe dedicada a conquistar clientes no Brasil. Por meio de divulgações nas redes sociais e até pessoalmente, nas áreas de fronteira, intermediários brasileiros anunciam o trabalho do profissional, propagando fotos de supostos resultados de procedimentos.
Esses intermediários geralmente ganham um percentual por cliente conquistado, e costumam fechar um pacote incluindo transporte, alimentação, estadia, cirurgia e cuidados durante o pós-operatório. Há outras opções para quem deseja viajar por conta própria.
Além deles, ajudam na divulgação os cuidadores , na maioria também brasileiros, que via de regra não trabalham para um médico específico. Ele auxiliam na busca pelo profissional e cobram até R$ 3 mil para oferecer suporte no período pós-operatório, que pode levar 15 dias. O valor inclui alimentação, acompanhamento, estadia e ajuda durante a recuperação.
É preciso tomar cuidado, porque existe o risco de (os pacientes) serem captados por gente que trabalha por comissões e porcentagens para arrumar pacientes para cirurgiões falsos , alertou em conversa com a BBC News Brasil o presidente da Sociedade Boliviana de Cirurgia Plástica, Javier Ruiz Barea.
Os pagamentos das cirurgias plásticas são feitos em uma única prestação, em dólar ou real. No caso da Bolívia, podem ser realizados antes de o paciente ir ao país ou na chegada. Na Venezuela, precisam ser pagos antes, por meio de depósito bancário ou entregues a um representante do médico.
As conversas sobre as plásticas, os valores e a forma de pagamento acontecem no WhatsApp. Também são criados nos aplicativos grupos que reúnem as pessoas que irão nas mesmas datas, nos quais também são publicadas informações sobre as viagens e as cirurgias.
Segundo a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP), a prática de levar grupos de brasileiros para fazer cirurgias plásticas em outros países é ilegal. Eles aliciam as pessoas. Trata-se quase de um tráfico de pacientes. É um interesse exclusivamente mercantil. Fazem do paciente objeto de mercancia , afirmou Denis Calazans, secretário-geral da entidade.
Uma pessoa que recebe pacientes na Venezuela, que pediu para não ser identificada, nega que a prática seja criminosa.
Os médicos brasileiros tentam nos denegrir. Eles costumam dizer que somos aliciadores, mas eu não obrigo ninguém a vir. As pessoas chegam aqui por vontade própria. São elas que me procuram , diz.
Os grupos, que costumam ter entre cinco e dez pessoas, geralmente viajam por meio de vans, ônibus ou carros particulares.
Em boa parte das vezes, vivem nos Estados próximos à fronteira – os pacientes que chegam à Bolívia vêm, em sua maioria, de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Acre e Rondônia, enquanto no caso da Colômbia, de Roraima ou do Amazonas.
Durante o pós-operatório, há a opção de ficar em espaços pertencentes aos cuidadores. A atividade se tornou tão rentável que, para alguns, se tornou a única fonte de renda – há quem tenha contratado enfermeiros, cozinheiros e motoristas para atender aos pacientes.
Na Venezuela, os brasileiros costumam fazer as intervenções em Puerto Ordaz, a cidade grande mais próxima à fronteira. No país, o grande número de estrangeiros que procuram os serviços locais fez os médicos criarem promoções para os locais, relata uma cuidadora ouvida pela BBC News Brasil.
Os médicos passaram a cobrar metade do preço, em comparação àquilo que é cobrado dos estrangeiros, para que eles (venezuelanos) façam as cirurgias , relata.
Em meio à profunda crise vivida na Venezuela, os cirurgiões plásticos intensificaram a divulgação de seus trabalhos no exterior.
Segundo o cirurgião Enzo Troisi, a vinda de estrangeiros cresceu nos últimos anos. Hoje, além dos brasileiros, também recebemos pacientes colombianos, dominicanos, americanos e europeus , diz.
Formado há 20 anos, Troisi afirma costumar operar de 8 a 12 brasileiros todos os meses. Não há levantamentos sobre a quantidade de brasileiros que vão à Venezuela com esse fim.
Uma cabeleireira brasileira, que pediu para não ser identificada, diz que economizou R$ 6,5 mil ao fazer plásticas no país vizinho em fevereiro passado. Eu fiz lipoaspiração e coloquei prótese nos seios. No Brasil, os procedimentos não sairiam por menos de R$ 17 mil. Paguei R$ 10,5 mil na Venezuela.
Ela elogia os médicos. Eles foram muito cuidadosos e exigiram uma bateria de exames. Deu tudo certo comigo e com as outras meninas do meu grupo , conta. Não me arrependo. Meus parentes diziam que eu estava maluca, por causa das notícias ruins do país, mas a minha experiência foi muito tranquila , diz a mulher.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia plástica alerta que os riscos estão presentes não só nos procedimentos em si, mas também no período pós-cirúrgico. Isso porque, afirma, há casos de brasileiros que sofrem complicações por não aguardar o tempo necessário de repouso.
Uma das características que percebemos, principalmente nas cirurgias feitas na Venezuela, é que os brasileiros que têm complicações fazem a recuperação em hospitais públicos no Brasil. Então, eles pagam particular em outro país e se recuperam aqui, às custas do Estado brasileiro. Apesar disso, é importante destacar que a saúde brasileira é universal e não se pode negar assistência , afirma Calazans.
Na Bolívia, o mercado de cirurgias plásticas teve uma grande expansão nos últimos anos. Lá, a cidade mais procurada por brasileiros é Santa Cruz de La Sierra, também próxima com a fronteira.
A taxa de câmbio faz com que os procedimentos fiquem mais baratos para os brasileiros , conta o presidente da Sociedade Boliviana de Cirurgia Plástica.
Há dois anos, a vendedora Josiane Roque, de 31 anos, foi à Bolívia para fazer uma lipoescultura e colocar próteses de silicone nos seios.
Ela relata que pesquisou sobre os médicos locais antes de fazer as intervenções, que custaram R$ 7,5 mil. Vi os resultados das cirurgias que eram feitas lá e gostei. Depois olhei os valores e vi que pagaria metade do que gastaria aqui no Brasil. .
A vendedora também contratou uma cuidadora para auxiliá-la no pós-operatório. Eu fiquei sete dias na Bolívia, após a cirurgia, e só retornei quando estava bem. Gostei muito dos resultados, e indiquei para todas as minhas amigas.
O empresário e jornalista Peterson Prestes, de 36 anos, afirma ter feito 22 procedimentos na Bolívia desde 2011, entre plásticas e intervenções estéticas. Fiz rinoplastia, apliquei botox várias vezes, coloquei próteses nos glúteos, entre outras intervenções estéticas. Foi tudo muito tranquilo e nunca tive nenhuma complicação , diz.
Ele acredita que os mesmos procedimentos, caso feitos no Brasil, não custariam menos de R$ 100 mil – na Bolívia, conta, saíram por pouco menos de R$ 80 mil.
No total, paguei pouco menos de R$ 50 mil ao longo desses anos. Eu consigo muitos descontos porque também trabalho como drag queen e gravo vídeos divulgando algumas clínicas.
Javier Barea alerta que os brasileiros devem tomar cuidado para não contratar falsos profissionais.
Há pessoas que não são médicas e se passam por cirurgiões plásticos. Existem também médicos que não possuem tal especialidade e se oferecem para esse tipo de intervenções. Por isso, orientamos que somente entrem em contato com cirurgiões que pertençam à Sociedade Boliviana de Cirurgia Plástica.
Embora as mulheres que conversaram com a reportagem relatem experiências positivas, nem sempre o sonho da cirurgia plástica termina bem.
O caso de morte mais recente foi o da manauara Orquídea Catão Ponds, de 45 anos, que morreu horas depois de passar por uma lipoaspiração na Venezuela, em dezembro.
Segundo o laudo pericial, ela teve tromboembolia pulmonar – um coágulo se forma nas veias, entupindo a artéria do pulmão.
A família contesta o resultado da perícia. Tenho certeza de que não foi uma tromboembolia pulmonar. Eu a acompanhei, estive lá no momento da cirurgia e vi tudo de errado que aconteceu no dia , relata uma parente dela, que pediu para não ser identificada.
Um ano antes, outra brasileira havia morrido após ser operada pelo mesmo médico, o oncologista Oscar Hurtado. Dioneide Leite, de 36 anos, se submeteu a uma abdominoplastia com ele. O nome de Hurtado não consta na lista de profissionais inscritos na Sociedade Venezuelana de Cirurgia Plástica (SVCP).
A reportagem procurou a entidade para comentar o caso, mas ela afirmou que não poderia responder nesta semana.
Em setembro do ano passado, a mato-grossense Janeane Rodrigues da Silva Fidélis, de 42 anos, morreu em decorrência de cirurgias plásticas feitas na Bolívia. Ela sofreu uma parada cardíaca dois dias depois de se submeter a lipoaspiração e abdominoplastia.
O médico responsável pela cirurgia, o cirurgião plástico Hernán Justiniano Grillo, não respondeu aos pedidos de entrevista. Na época, argumentou que a paciente não relatou, no pré-operatório, que tomava diferentes tipos de medicamentos, dentre eles um para problemas cardíacos.
De acordo com a Sociedade Boliviana de Cirurgia Plástica, o médico está inscrito na entidade. A entidade afirma que todos de morte os casos são investigados pelo Ministério Público da Bolívia, mas são conduzidos em sigilo.
A Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica fez uma representação na Procuradoria-Geral da República sobre o turismo médico , na qual relatou as mortes das brasileiras. Segundo a PGR, não foram encontrados indícios de ilegalidades, e procedimento de investigação acabou arquivado.
Nos últimos cinco anos, foram registradas ao menos oito mortes de brasileiras na Venezuela em decorrência de cirurgias plásticas. Na Bolívia foram ao menos sete em 20 anos, segundo a Sociedade Boliviana de Cirurgia Plástica.
Não há dados sobre as mortes e complicações ocorridas após cirurgias feitas no Brasil, como a da bancária operada pelo Doutor Bumbum . Apesar dos vários casos relatados na imprensa ao longo dos anos, o Ministério da Saúde, o Conselho Federal de Medicina e a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica afirmam que não possuem estatísticas sobre óbitos ou sequelas graves.
No Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde, não há apontamentos de mortes em razão de cirurgias plásticas. Os casos normalmente são notificados de formas distintas, como infecção ou parada cardiorrespiratória, pois não há uma especificidade para as intervenções estéticas.
O dermatologista Érico Pampado Di Santis defendeu uma tese de doutorado que tinha como tema as mortes em procedimentos de lipoaspiração no Brasil. Ele relata que teve dificuldades para encontrar dados sobre os óbitos relacionados às intervenções.
Obtive pela imprensa (os dados) em uma busca hercúlea de 10 anos. É mais difícil ainda conseguir as certidões de óbito , comenta.
Com base nas pesquisas para a tese, Santis apurou que foram registradas, no Brasil, 102 mortes, de 1987 a 2015, em decorrência de lipoaspiração, em alguns casos associadas a outros procedimentos.
Segundo o dermatologista, não há como afirmar que as intervenções nos países vizinhos são mais arriscadas que as feitas no Brasil. Não se pode dizer que os riscos são distintos, pelo motivo de não termos no Brasil, e também no mundo, dados consistentes sobre esses casos.
……………..
AGÊNCIA ESTADO

Mercado virtual da beleza tem sorteio, mutirão de implantes e briga por cliente

Na última semana, esse universo veio à tona após a prisão do médico Denis Furtado, o Doutor Bumbum, acusado pela morte da bancária Lílian Calixto
No mercado virtual da beleza, anúncios de perfis com milhares de seguidores prometem bumbum, rostos e seios perfeitos As estratégias vão de promoções a sorteios e há até "mutirões" para fazer os procedimentos estéticos. Os grupos também servem de arenas de batalha: de um lado, médicos, a maioria não especialistas, e de outro as chamadas "bombadeiras", sem diploma na área. Na última semana, esse universo veio à tona após a prisão do médico Denis Furtado, o Doutor Bumbum, acusado pela morte da bancária Lílian Calixto.
O preenchimento do bumbum, técnica aplicada por Furtado em Lílian, é o carro-chefe de quem faz a bioplastia. E o polimetilmetacrilato (PMMA) é a substância mais anunciada nas redes sociais, embora não seja recomendada por entidades médicas "Não tenho vergonha de falar que faço bioplastia", diz Eduardo Costa, pediatra, sem especialização em cirurgia, que realiza o procedimento com PMMA em quatro capitais.
Nas redes, ele e outros profissionais interagem com pacientes e tiram dúvidas em textos e vídeos ao vivo. "Tudo é feito em poucas horas, sem internação e somente com anestesia local", escreveu outro médico em sua página no Facebook, com 41 mil inscritos. Em grupos privados, não é raro ver imagens de bumbuns definidos e comparações do tipo "antes e depois" – o que é vedado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). O agendamento dos procedimentos também é simples.
Em comum, quem faz as bioplastias oferece canais de atendimento via WhatsApp. Basta mandar uma mensagem para receber instruções. Para acelerar, é possível fazer o que chamam de "pré-atendimento" online, com envio de fotos de costas e de lado Depois, é feita uma consulta presencial e o procedimento pode ser realizado no mesmo dia ou no dia seguinte.
Promoção
Mulheres que supostamente já fizeram a bioplastia se tornam promoters do procedimento e enviam às outras a lista de médicos parceiros do grupo, onde é possível obter desconto. Em fórum no WhatsApp com mais de 200 membros, são anunciados quatro profissionais – um no Rio, dois em São Paulo e outro em Porto Alegre. Segundo o anúncio, seriam cobrados R$ 10 mil para aplicar 200 mililitros de PMMA em cada nádega. Outro tópico indica uma mulher, identificada só pelo primeiro nome, que faz a aplicação do "bumbum padrão" – de 800 ml, a R$ 14,4 mil.
Também há sorteios de bioplastia entre autoras dos primeiros comentários em grupos fechados no Facebook e a organização de mutirões. "Eu e duas amigas nos juntamos e pagamos as passagens aéreas e hospedagem dela (autora da página). Ela fez nossa bioplastia com todo conforto", disse uma jovem em um desses grupos.
Um dos temas nesses fóruns são os riscos e vantagens de se fazer esse tipo de procedimento com médicos ou outros profissionais, como enfermeiros, biomédicos e esteticistas. "Todo mundo está injetando tudo em todo mundo. As pessoas começaram a se aventurar e tem o 'braço' (vertente) das 'bombadeiras', diz Costa, em referência a mulheres que não têm formação médica. Ele defende a exclusividade dos médicos e diz "seguir o bom senso" ao definir a quantidade de PMMA.
Presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, Níveo Steffen diz que o procedimento não é recomendado. "A bioplastia dentro da cirurgia plástica é muito pontual. Não há recomendação disso com finalidade estética." Ele explica que, embora não exija cortes, o procedimento deveria pressupor cuidados semelhantes aos de cirurgias, como antissepsia do local de aplicação, o que nem sempre ocorre.
Outro problema é o tiro no escuro. "O paciente não sabe o que está sendo injetado. Em vez de colocar PMMA, pode colocar substâncias piores."
A professora Mônica Fernandes, de 34 anos, é uma das que acompanham as técnicas em grupos virtuais. Em 2017, foi a uma clínica de estética no Rio para injetar PMMA no bumbum, mas acabou convencida a, antes, "melhorar" o formato do rosto. Concordou com a injeção do que imaginava ser ácido hilaurônico – substância permitida -, mas se surpreendeu após três meses. "Desceu, começou a ir para a bochecha, como se estivesse caindo pelo rosto." Ela não sabe a formação de quem fez a aplicação. "Veio com a seringa pronta e jogou no meu rosto", diz. "Quis fazer porque estava mais em conta."
Corregedor do CFM, José Fernandes Vinagre explica que a promessa de resultados, comuns nos anúncios, é vedada. "Há o 'Vai entrar cheia de celulite e sair sem nenhuma'. Esse tipo de coisa não pode ser prometida." Sobre o PMMA, o CFM indica que a substância só pode ser injetada em pequenas doses – sem especificar quantidades -, por médicos, e não há estudos sobre a ação a longo prazo do produto. O Conselho Federal de Enfermagem não prevê a prática entre seus profissionais. Já a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) informou que o PMMA é classificado como de "máximo risco" e o procedimento deve ser feito por um profissional habilitado.

'Curtidas' e suposta praticidade seduzem pacientes
A suposta facilidade das técnicas anunciadas nas redes sociais e o número de seguidores – só o Dr. Bumbum, preso na semana passada, tinha 660 mil – atraem interessados em procedimentos estéticos. "Resolvi procurá-lo por causa da facilidade de recuperação, eu não precisaria ficar afastada das minhas atividades", contou ao Estado uma ex-paciente do Dr. Bumbum. Ela teve hidrogel injetado nos seios – técnica proibida – e pagou R$ 7 mil pelo procedimento, há quatro anos. Agora luta para se livrar das deformidades e cicatrizes no corpo.

Na internet, profissionais oferecem serviços que não estão credenciados a fazer e inventam especialidades. "Isso é simples de checar", diz o vice-presidente da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia, Alexandre Hohl. "Basta entrar na página do Conselho (Regional de Medicina) e digitar o nome do médico para saber se ele tem especialização."
Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), médicos não podem alardear supostos resultados, nem anunciar especialidades médicas que não existem. Algumas delas são "terapia antienvelhecimento", "fisiologia hormonal", "hipertrofia muscular" e "chip da beleza".

Há 57 especialidades médicas regulamentadas, diz o CFM. E medicina estética – uma das mais citadas nas redes – não é uma delas. "E mesmo um especialista, um cirurgião plástico ou dermatologista não pode postar foto de pacientes em nenhuma hipótese, a Constituição não permite, até mesmo se houver autorização (da paciente)", diz José Fernandes Vinagre, corregedor do CFM.
"Ainda confiamos naqueles com mais seguidores", afirma a especialista em comunicação e redes sociais Ana Erthal, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). "Cada foto do Dr. Bumbum tem 10 mil, 20 mil curtidas. Enche os olhos das pessoas."

"Ainda confiamos naqueles com mais seguidores", afirma a especialista em comunicação e redes sociais Ana Erthal, da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM). "Cada foto do Dr. Bumbum tem 10 mil, 20 mil curtidas. Enche os olhos das pessoas."/R.J.
2 PERGUNTAS PARA…
Leonardo Pereira, da Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica
1.O padrão de beleza hoje valoriza exageros, como os glúteos? O padrão de beleza sempre muda, é sempre cíclico. Por exemplo, quando terminei a residência, em 2004, as próteses de mama eram de, no máximo, 200 mililitros.
Alguns anos depois, chegamos a ter próteses de 400 mililitros. Agora diminuiu de novo. Os glúteos agora estão indo no mesmo caminho do exagero.
2.É possível aumentar os glúteos sem tanto risco?
Sim, existem técnicas como enxerto da própria gordura do corpo e próteses de silicone. Mas há uma limitação estética. O bom profissional não vai aceitar fazer uma coisa muito exagerada. Aí a pessoa procura um cara que faz. / R.J.

…………..

ROTA JURÍDICA

Artigo – Quando um médico deve consultar seu advogado

A vida do ser humano – de forma consciente ou não – é constituída de contratos jurídicos que estabelecem direitos e deveres por toda a vida. Normas que o protegem na infância e adolescência, imputam responsabilidades civis e penais ao ingressar na idade adulta e que se distribuem por ramificações de acordo com as atividades que exerça. Dentre as mais complexas está a atividade profissional da medicina. De xamãs e curandeiros no passado, os médicos, por meio da ciência, passaram ao domínio dos cuidados para manutenção e recuperação da saúde em diversos matizes. Heróis quando salvam, tornam-se vilões quando expectativas de cura são frustradas. No mundo todo e no Brasil em particular, vive-se claramente relacionamento estressado por natureza entre médicos e pacientes. E muitos casos clínicos são judicializados. Vários com fundamento, diversos sem razão aparente. Os números que expomos abaixo – com possível distorção diante da dificuldade de apuração precisa – indicam que os profissionais estão precisando cada vez mais de apoio. Nesse sentido, cabe reflexão sobre quando um médico deve consultar seu advogado.
Em dez anos, de 2001 a 2011, aumentou em 302% a quantidade de processos ético-profissionais em andamento a partir de denúncias contra médicos no Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo (CREMESP), denúncias essas que estão relacionadas à má prática, erro médico ou infrações diversas ao Código de Ética Médica. Na justiça, o número de denúncias de erros médicos cresceu 52,1% em 2011, em relação ao ano anterior, de acordo com o Superior Tribunal de Justiça (STF). Em 2016, 7% dos profissionais médicos em atividade já respondiam processos judiciais.
Do início de 2003 a 2017, o volume de escolas médicas no Brasil mais que dobrou, saltando de 126 cursos para 298 (até dezembro de 2017), que respondem pelo preparo de 30 mil novos médicos todos os anos. Inobstante o volume, pode-se dizer que temos, hoje, no Brasil, condições precárias de ensino nas faculdades de medicina e, consequentemente, formação de médicos pouco capacitados para exercerem a profissão.
Segundo dados do Conselho Federal de Medicina, apenas uma faculdade de medicina do país tirou a nota máxima na última avaliação do Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais). Em uma escala de um a cinco, mais da metade teve nota menor ou igual a três. Da mesma forma, mais da metade dos recém-formados em escolas médicas do Estado de São Paulo (56,4%) foi reprovada na edição do Exame do CREMESP realizada no final de 2016 (os dados de 2017 ainda estão sendo apurados).
Ora, ações judiciais, quando infundadas, além de prejudicar diretamente a imagem e o prestígio do médico, acarretam em prejuízos financeiros, pois, para provar a sua inocência, o médico terá despesas com advogado, perícia e custas processuais. Dessa maneira, provar a sua inocência em uma ação judicial (mesmo que aventureira por parte do paciente) pode custar caro moral e financeiramente para um profissional da saúde.
Como medida preventiva contra tais reclamações, o profissional médico deve adotar ao menos cinco cuidados: primeiro, agir tecnicamente de acordo com os protocolos médicos; segundo, desenvolver uma boa relação com o paciente, pautada na ética, boa fé e transparência; terceiro, diante de um problema, chamar o paciente e, se for o caso, a família, para explicar didaticamente o caso (prestação de informações); quarto, fazer um bom prontuário médico para documentar todas as ações realizadas; e quinto, sempre se dedicar ao seu aprimoramento técnico por meio de educação continuada e atualização.
Dessa forma, com o quadro atual em mente, o médico deve estar sempre atento e procurar um advogado de sua confiança assim que surgir no horizonte a possibilidade de quaisquer conflitos – seja para prestar uma consultoria preventiva e evitar problemas, seja para auxiliar na melhor condução de situações de animosidade, inclusive chegando a evitar a instauração de litígios.

*Fábio Cabar, sócio-fundador de CGRC Advogados, médico e advogado, integrante da Comissão de Direito Médico da OAB/SP e presidente da Comissão de Ética Médica do Hospital das Clínicas de São Paulo
……………………